Sandra Sisla | Fisioterapeuta | Educadora Perinatal | Doula
Imagine uma criança rodeada por adultos que fazem tudo por ela. Adultos que alcançam objetos, que não permitem que se estique para experimentar algo novo? O que parece zelo e cuidado pode criar uma expectativa errada no bebê, de que adultos sempre farão tudo por ele. Essas atitudes podem ainda adormecer uma vontade interna de descobrir o mundo tão potente nos pequenos.
Não é o adulto que não ensina o movimento ao bebê. Esta aprendizagem vem da experiência em si mesmo e dos impulsos na busca de conhecer o novo. O bebê é um grande pesquisador, explora o mundo minuciosamente e com grande curiosidade em tudo.
O movimento livre promove crianças seguras e prudentes. Mas como podemos proporcionar esse cenário de desenvolvimento pleno? Criando um ambiente rico, de qualidade, sem o direcionamento nem a interferência, para que a criança consiga resolver seus próprios desafios desde o início de sua jornada. Adulto que a protegem o tempo todo pode deixar a criança vulnerável.
A sensação de equilíbrio e desequilíbrio é uma resposta do organismo, resultado de um conjunto de mensagens e sensações. A criança precisa aprender a cair. Faz parte da pesquisa de corpo e das forças atuantes. A criança é cautelosa por natureza e aprende a proteger-se rapidamente.
O embasamento teórico para essa abordagem vem do método de Emmi Pikler, uma pediatra húngara, que estudou profundamente o desenvolvimento motor da criança nos primeiros anos de vida. Ela propõe que a criança se movimente sem interferência, recebendo sempre o apoio da mãe ou do adulto que se ocupa de cuidar dela. Essa relação de confiança profunda é fundamental para a segurança afetiva e maturação da personalidade da criança.
Um bebê não se põe em situação de risco se puder contorná-la e, para isso, precisa vivenciar o chão. A criança quando rola, engatinha, desenvolve uma exploração segura, firme e estável. Precisa dialogar muito com o chão, compreender suas forças, as alavancas em seu corpo e irromper contra a gravidade.
Os brinquedos e o chão são recursos para desenvolver contorno. São eles que ajudam o bebê a ter a noção do limite, a entender o que está dentro e o que está fora. Deste modo, o bebê aprende a ser prudente, a ter cautela, ter cuidado consigo e com o entorno.
Permitir que a criança experimente é um desafio para nós, adultos, mas para ela é um grande presente que podemos oferecer.
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