Alessandra Ferreira | Psicóloga Infantil
Uma menina gostar de azul...
Um menino gostar de rosa...
Tudo bem?
Claro que tudo bem!
Para a criança o rosa ou azul, assim como o verde e o vermelho não significam nada além de cores. Uma é usada pra pintar o céu, outra uma árvore, uma flor, uma porta... Quando criança diz que rosa é de menina e azul é de menino, pode ter certeza que o discurso não é dela. Não foi a criança que chegou a essa conclusão. Ela provavelmente ouviu isso de alguém e está reproduzindo.
Muitos pais quando vêem os filhos brincando com boneca ou quando pegam as meninas brincando de carrinho, se sentem incomodados. Entram na frente pra atrapalhar a brincadeira, fazem o que podem para acabar com a diversão que eles acreditam não ser saudável para o seu filho ou sua filha.
No consultório, já vi isso algumas vezes. A cena quase sempre segue o mesmo roteiro: um menino pega uma boneca e começa a ninar, balançar. Rapidinho vem o pai ou mãe dizendo:
- Menino larga isso, vai brincar com outra coisa.
Quando a criança é pequena ela não faz essa separação de gênero (masculino e feminino), pra ela não existe diferença. E tem que ser assim mesmo. A menina quanto brinca de carrinho, por exemplo, está imitando a mãe ou o pai. Quando se diverte com a ideia de super herói que defende a cidade ou a humanidade toda, acaba trabalhando internamente a questão da proteção, do pai protetor. Ela está imitando a realidade dela. Os meninos quando estão brincando de boneca estão reproduzido o cuidado que a mãe tem com ele, cuidar, trocar a roupa, ser carinhoso, estão aprendendo a cuidar do outro. Veja que exercício lindo.
Ouvi uma história que achei muito interessante. Um casal que tem dois meninos. Na casa deles, um festival de carrinhos, dinossauros, peças de montar, ferramentas de madeira. A mãe disse a uma amiga que pensava em comprar ou mesmo construir para as crianças um fogão de madeira pra aumentar o reportório de brincadeiras. Já que a mãe e o pai vão pra cozinha porque não permitir que os meninos também se interessem pelo ambiente. Não são essas brincadeiras que vão determinar lá na frente a sua opção sexual da criança.
As minhas duas meninas são bem diferentes de temperamento. A caçula sempre gostou de bonecas. A mais velha, agora com 12 anos, até brincava, mas preferia as brincadeiras com bola, mais as que tinham movimento. Um dia ela me contou porque gostava mais de brincar com os meninos:
- Mãe, é que as brincadeiras deles são mais divertidas!
Vou dizer pra não brincar, que ela não pode? Claro que não!
Não sei se você já viu uma sala de jardim de infância Waldorf. Tem fogão, panelas, panos, bonecas, carrinhos e todos brincam. Um dia, todos cuidam do jardim; no outro, meninos e meninas dão um “brilho” na sala, limpando com panos as cadeiras, a mesa. A quarta-feira é dia de painço (servido no lanche em algumas escolas). É o dia preferido de muitas crianças, elas ajudam a preparar os acompanhamentos: salsinha, cebolinha, cenoura, azeitona e queijo. Não tem o que é de menino e o que é de menina, a brincadeira de preparar o alimento envolve todos.
Meu convite é para que sejamos mais leves nessa questão. Lembrar que não tem coisa de menino e coisa de menina. Tem coisa de criança. Que tal deixá-las brincar livremente?
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