José Agop | Pediatra Antroposófico
Quando a gente fala em limitar o uso de telas (computadores, tablets, TV e celulares) na vida das crianças, logo pensamos em como é árdua essa tarefa.
É importante entender o impacto delas no desenvolvimento das crianças para depois escolher que caminho iremos seguir, se queremos permitir ou não.
Várias pesquisas apontam que esse hábito pode trazer aumento de doenças neurológicas, agitação psicomotora, déficit de atenção, hiperatividade, insônia, alguns estudos suspeitam a possibilidade do aumento da incidência de autismo em crianças.
A pergunta que sempre me fazem no consultório é: qual o tempo ideal de telas em cada faixa etária?
Nos primeiros mil dias de um bebê, o que significa do zero aos três anos, idade em que é formado o alicerce cerebral de uma criança, qualquer estímulo de telas eletrônicas impacta muito.
RECOMENDAÇÃO
- de ZERO a 2 ANOS as crianças NÃO devem tem contato com telas,
- de 2 A 3 ANOS, o indicado é até 30 minutos (por dia),
- de 3 A 7 ANOS, de 60 a 90 minutos (por dia),
- de 7 A 14 ANOS, 2 horas de por dia. Contando todas as telas juntas (TV, tablets, celulares).
As imagens que os meios eletrônicos nos apresentam chegam sempre prontas, o cérebro não precisa fazer trabalho algum, a não ser absorver. Dessa forma, o cérebro vai perdendo a capacidade de criar a própria imagem, isso significa IMAGINAR. A criança tem limitada a sua capacidade imaginação tamanha a quantidade de imagens prontas que chegam até ela.
Até os primeiros 3 anos de vida, o cérebro de uma criança faz 700 sinapses (conexões neurais) por segundo . A manutenção das sinapses e a criação de novas se dá pelas vivências e não pela observação.
Hoje é comum ver um youtuber brincando e milhares outras crianças assistindo. O youtuber está formando o cérebro muito bem, já as crianças que assistem, não. Estão apenas observando e não vivendo. Estamos vendo muito e vivendo muito pouco.
E brincar com a TV ligada, entra na contagem do tempo? CLARO.
Se uma criança de 4 anos brinca durante 2 horas com a TV ligada, já extrapolou o tempo limite pra sua idade. Além disso, esse hábito, indiretamente, ensina a criança a não focar numa atividade. Ela não vê TV direito nem brinca direito. A criança pode ter dificuldade em se aprofundar nas coisas, terá menos capacidade de mergulhar em algo.
Quando a criança chega no consultório com hiperatividade e TDH (Transtorno de Déficit de Atenção), o tratamento não é só pra ela, é pra família toda. É preciso olhar para o todo, para as rotinas e estabelecer novos combinados.
Outro detalhe muito importante, o desmame de eletrônicos tem que ser progressivo. Hoje se sabe que o uso de frequente de telas causa a liberação da dopamina, que são os neurotransmissores ligados ao vício. Dessa forma, não podemos suspender instantaneamente o uso de telas, a criança pode sofrer de abstinência. Tem que ser um processo gradativo.
Se você chegou até aqui e realmente acredita que uma mudança de hábitos para a família é importante. Vamos seguir.
Temos que oferecer outra atividade para elas e que também seja atraente. Levá-las pra brincar, pra andar de bicicleta, de patinete, fazer uma trilha. Se não conseguimos fazer isso diariamente por falta de tempo, não há problema nenhum em terceirizar. O que é muito prejudicial pra criança é deixá-la refém da TV e do tablet dentro de casa.
DORMIR CEDO E BRINCAR FORA
Dormir cedo significa, criança na cama até as 20h.
E brincar fora, é pelo menos, 1 hora de atividade física na natureza, por dia.
Nos finais de semana, os pais tem OBRIGAÇÃO de levar a criança pra perto da natureza, tanto no sábado quanto no domingo. Se quiser passear no shopping, o ideal é que seja um passeio noturno, se a criança aguentar. Durante o dia, é bom aproveitar pra ficar em espaços abertos, no verde, e não dentro de paredes.
Além disso, é importante limitar a ingestão de alimentos ultraprocessados (embutidos, refrigerantes, salgadinhos, gelatinas industrializadas, refrescos em pó, macarrão instantâneo, sorvetes, biscoitos recheados, achocolatados e outras guloseimas). Evitar farinha branca e açúcar. Tirando esses alimentos da rotina da criança, açúcar, por exemplo, somente no final de semana e fora de casa.
E aqui vão algumas orientações os pais, avós, tios, para todo mundo que já cresceu.
Deixem as telas um pouco de lado também.
Leiam mais livros.
Tenham refeições mais leves à noite.
E durmam até as 22h. Não durma depois da meia-noite como rotina.
As substâncias que curam e recalibram e vitalizam o corpo são liberadas no nosso organismo a partir das 20h pra serem usadas durante o sono, quanto mais longe das 20h horas dormirmos, menos aproveitamos essa substância para reorganizar a nossa saúde.
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